Distopia - Edições do Amanhã (2025-12-08)

CONCEITO (SUPER-EXPOSITIVO, NÃO ROMANTIZADO, UM POUCO BOBO)

"Aqui tudo se mede pelas sirenes. Elas dizem quando podemos ir e quando devemos vir, quando é hora de trabalhar e quando é hora de descansar. A distância entre os lugares é medida pelo tempo entre uma sirene e outra. Por exemplo, daqui até o posto do Fiscal são três disparos de distância. Às vezes a sirene muda de passo, e tudo muda de acordo. Quaisquer outras formas de medir são punidas e infrutíferas, seja contar palmas ao longo do muro, estender roupas pelo chão ou contar passos.

Na verdade, no fim do dia todos são obrigados a ler uma sequência de números aleatórios até a exaustão, para esquecer de qualquer código que tenham planejado transmitir.

Inclusive, os formulários que nós recebemos vêm cada dia num tamanho diferente, e precisamos devolver pela tarde para serem queimados. Não dá pra usar como régua, de jeito nenhum.

O mais importante de tudo é: não podemos fazer nada enquanto a sirene soa. Não tente se mexer, pelo amor de Deus! Nessas horas, só a polícia pode caminhar. Isso faz com que nunca se atrasem."

"Oficialmente eles não podem proibir nada. Mas dificuldades surgem.

Por exemplo, depois do que o padeiro falou na semana passada, está muito difícil chegar à padaria.

Se alguém se aproxima, eles tocam a sirene. A cidade toda para. E leva uns quatro toques pra chegar lá agora. Não sei dizer com certeza, mas me arrisco a dizer que os toques estão com um cachorro de comprimento. Mesmo assim, a gente só tem 12 toques no dia, e depois tem tempo aberto só pra chegar em casa"

"Ele só queria dizer que o pão era bom.

Afixou um cartaz dizendo que o pão durava o dia todo, que a farinha vinha de Cima, da Cidadela.

E vem mesmo. Ele paga uma fortuna e nem lucra, só quer tocar o negócio.

Mas ficaram com medo que as pessoas começassem a usar o pão como medida de tempo, porque ele dura o dia todo. Ninguém tinha pensado nisso antes.

Mas, você sabe... nada aqui é muito fixo. Não temos dogmas, não temos livros sagrados ou jornais para consultar, não temos verdades objetivas, e nem queremos. Só queremos pão."

GUICHÊ DE MENSAGENS

"Olá. Meu nome é 20874. Preciso falar com o Padeiro, mas tenho que incluir o nome dele no destinatário e não sei qual o nome dele hoje. Podem incluir no catálogo?"

MENSAGEM AUTOMÁTICA: NÃO PODEMOS RESPONDER PORQUE 20874 NÃO FOI ENCONTRADO APÓS 6 PULSOS. ERRO 231: PESSOA NÃO EXISTE MAIS

"Olá. Sou eu mesmo. O de ontem. Recebi um nome diferente e não querem responder minha mensagem porque não tenho mais o mesmo cadastro"

ESTAMOS MUITO OCUPADOS. RESPONDEREMOS EM ATÉ 8 CICLOS.

[Sempre prometem responder à pessoa civil que ele era ontem]

"Bom dia, pessoa! Como está se sentindo?

Não se esqueça que hoje é um dia especial e teremos uma marcha ao meio dia na Praça do Guardião. Retire um nome no guichê antes de ir trabalhar"