Quatro tipos de Vilões (2025-12-14)

Últimos textos que venho escrevendo - fragmentos e outras coisas não romantizadas (reprodução livre para divulgação)

Joshua Glass

12/14/20252 min read

QUATRO TIPOS DE VILÕES

O cínico - Pouca Nobreza, Pouca Honestidade

Esse é o vilão mais básico, mais direto ao ponto e mais caricato: ele sabe que é mau - e gosta

O desafio ao se escrever vilões assim é fazê-los genuinamente interessantes. Não basta que ele seja mau ou cruel: para indignar o leitor, ele precisa ser descaradamente injusto - e sair impune

Exemplos incluem: a criança chata que se faz de santa em frente aos adultos, o puxa saco fracote que se beneficia do poder do patrão, o líder de cartel que se impõe por medo, etc. Especialmente Alfrid Lickspittle, de O Hobbit.

Melhor uso do Cínico = capanga, vilão de episódio

O revolucionário - Pouca Nobreza, Muita Honestidade

Esse é o vilão que tem consciência e orgulho da própria maldade

Movido por ódio ao sistema, ele comete atrocidades friamente calculadas

O desafio é não fazer deles vitimistas baratos e toscos - é necessário desenvolver muito bem o lado psicológico

Exemplos incluem: Coringa e Pinguim, vilões do Batman, V (V de Vingança)

Melhor uso do Revolucionário = anti-herói, vilão recorrente entre episódios

O Extravagante - Muita Nobreza, Pouca Honestidade

Esse é o vilão que gosta de esconder sua vilania atrás de uma cortina bordada, atrás de uma bengala de marfim ou atrás de uma caixinha de ouro com rapé.

Ele se preocupa muito com aparência, com reputação e com requinte - mas troca vinho por sangue num piscar de olhos. Geralmente tem servos (Principalmente Cínicos) a quem trata muito mal.

Exemplos incluem: Calvin Candie, de Django Livre, e Dr. Bartolo, de As Bodas de Fígaro e a maioria dos vilões de ópera buffa

Melhor uso do Extravagante = vilão de novela, antagonista de um arco narrativo

O Messias - Muita Nobreza, Muita Honestidade

Esse é, quiçá, o mais perigoso de todos.

É o vilão que no fundo acredita estar certo - ele encarna o Príncipe de Maquiavel, quando diz "os fins justificam os meios".

Talvez ele se veja como o único capaz de restaurar alguma forma de "pureza" no mundo.

O desafio ao se escrever um vilão desses é conseguir mostrar como a lógica torta do vilão funciona - de fato funciona para algumas pessoas, mas tem implicações terríveis.

Exemplos incluem: Voldemort, Thanos e Magneto

Melhor uso do Messias = vilão de mundo, antagonista principal da campanha

EXEMPLO INESPERADO

Queria demonstrar como é possível ater-se a essas categorias mesmo saindo do clichê - e como elas continuam funcionando em cenários improváveis. Suponha uma história escolar onde:

O Cínico é o aluno chato, metido, que inferniza o protagonista e sempre se salva da detenção

O Revolucionário é o aluno rebelde, contracultural, silencioso, que está planejando um incêndio escolar há três meses

O Extravagante é o professor de Geografia, altivo, soberbo, que bajula o aluno Cínico e garante que este nunca se saia mal

O Messias é a diretora histérica e insana, que promove perseguição aos alunos "perigosamente criativos" e acredita que uma escola de excelência só acontece quando os estudantes são completamente submissos e isentos de opinião. Ela apoia o Extravagante e aponta o Cínico como exemplo a ser seguido.